FORMAÇÃO DO LEITOR
Outubro de 2007.
"Existe uma representação na sociedade de que a língua portuguesa é muito difícil e que ninguém vai aprender a escrever porque é muito difícil. Há um não reconhecimento do que a gente faz o tempo todo que também é língua portuguesa. Pra desconstruir isso, dentro das formações dos alunos, lá desde a alfabetização, eles precisam se apropriar dos seus textos... Se a professora puder, colocar esses meninos como sujeitos de sua escrita, escrevendo o que desejam escrever, e essa escrita sendo cada vez mais, sempre, sistematicamente publicada e revisada numa dimensão de “quem vai ler”, exposições, varais de poesias, publicação para os pais, cartas para escolas de outros estados. Que a escrita seja trabalhada numa dimensão menos artificial e mais “o que eu quero dizer”, “eu estou usando minha língua e eu sou autor dessa língua”, afirma.
CEEL - Por que ainda é tão difícil a formação de alunos “leitores” no Brasil?
Ludmila Thome - Na verdade eu acho que se a gente tivesse uma formação de professores continuadamente atualizada e, também a inicial, de um nível mais interessante com uma responsabilidade maior do governo de estar sempre atualizando os professores, o conhecimento científico e preocupado com inovações nas práticas pedagógicas, a gente teria um outro modelo de professor. Evidentemente, um professor que ganhasse mais seria um outro cidadão com outras ambições de consumo cultural e inserção cultural que fariam necessariamente um melhor leitor. E, isso pra mim tem uma implicação direta: se você é leitor, se você tem a possibilidade de ser leitor inserido na cultura você vai saber como promover pedagogicamente atividades que vão fazer o aluno se inscrever na posição de leitor e também de escritor.
CEEL - A universidade está formando futuros professores leitores?
Ludmila Thome - Parece que há um isolamento entre a nossa tarefa de estudo, de pesquisa e o que a gente faz em sala de aula. Parece que a gente pensa às vezes que pode fazer os alunos aprenderem sem falar sobre esse aprender. Então, os alunos saem do ensino médio e viram alunos universitários, passam pela universidade durante quatro anos e cada professor vai fazer tarefas de leitura e escrita, um pouco do que acontece na escola básica. Cada professor tem a sua tarefa, todos os professores lidam com a leitura e escrita, mas só o professor de português se ocupa da responsabilidade de saber o que é e discutir sobre a leitura e a escrita e nem sempre ele sabe da melhor forma. Os professores não se colocam na posição de formadores, a gente se coloca na posição de professores-pesquisadores, isso é um defeito da universidade e uma coisa para se pensar nessa formação inicial. A universidade participando de programas e projetos de formação continuada que estão, cada vez mais, colocando os professores para escrever, pensando na leitura, tem ajudado os professores a se apropriarem de uma forma adequada dos conhecimentos científicos e até produzindo materiais diferenciados para a formação. Mas, a formação inicial, eu ainda acho que é muito científica e alienada das suas funções formadoras.
CEEL - Iniciativas de estímulo a leitura dão resultado. Que projetos poderiam ser apontados como iniciativas bem sucedidas?
Ludmila Thome - No Rio de Janeiro, anualmente, a gente tem o Salão do Livro Infantil que acontece no Museu de Arte Moderna. Os professores de Sala de Leitura (Biblioteca) recebem R$ 500,00 para comprar para suas bibliotecas. Nesse salão do livro o professor leva para sua escola o que ele escolheu e, no ano que tem a Bienal do Livro o professor tem mais R$ 500,00 para gastar na Bienal. Isso é uma forma de acesso, mas, ao mesmo tempo, é uma forma de responsabilização do professor pela leitura literária na escola. Só a montagem de bibliotecas não é suficiente para que aconteça a leitura. A idéia de uma biblioteca em cada município é absolutamente fundamental, é mínima, é básico. Isso aí já tinha que ter acontecido há muito tempo, tinha que ter uma biblioteca em cada bairro. Ter uma em cada município é maravilhoso, mas é preciso estar atento para como esse projeto vai ser implementado. O acesso não é suficiente, a gente precisa estar dinamizando. Qualquer professor de Sala de Leitura deveria saber isso, nem sempre ele sabe. O bibliotecário é o dono da chave, é o que guarda, não é o que oferece. Precisamos fazer eles entenderem que a manipulação é que faz a leitura.
Ludmila Thome de Andrade possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986), mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1991), Diplôme d'études approfondies (DEA/mestrado) em Analyse du Discours - Université de Paris III (Sorbonne-Nouvelle) (1991) e doutorado em Sciences de L'Education - Universite de Paris VIII (1996). Atualmente é Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas: formação de professores, análise do discurso, letramento, escrita e leitura e ensino de língua materna.
Por Augusto Noronha
Assessoria de Comunicação - Ceel UFPE
Outubro de 2007.
"Existe uma representação na sociedade de que a língua portuguesa é muito difícil e que ninguém vai aprender a escrever porque é muito difícil. Há um não reconhecimento do que a gente faz o tempo todo que também é língua portuguesa. Pra desconstruir isso, dentro das formações dos alunos, lá desde a alfabetização, eles precisam se apropriar dos seus textos... Se a professora puder, colocar esses meninos como sujeitos de sua escrita, escrevendo o que desejam escrever, e essa escrita sendo cada vez mais, sempre, sistematicamente publicada e revisada numa dimensão de “quem vai ler”, exposições, varais de poesias, publicação para os pais, cartas para escolas de outros estados. Que a escrita seja trabalhada numa dimensão menos artificial e mais “o que eu quero dizer”, “eu estou usando minha língua e eu sou autor dessa língua”, afirma.
CEEL - Por que ainda é tão difícil a formação de alunos “leitores” no Brasil?
Ludmila Thome - Na verdade eu acho que se a gente tivesse uma formação de professores continuadamente atualizada e, também a inicial, de um nível mais interessante com uma responsabilidade maior do governo de estar sempre atualizando os professores, o conhecimento científico e preocupado com inovações nas práticas pedagógicas, a gente teria um outro modelo de professor. Evidentemente, um professor que ganhasse mais seria um outro cidadão com outras ambições de consumo cultural e inserção cultural que fariam necessariamente um melhor leitor. E, isso pra mim tem uma implicação direta: se você é leitor, se você tem a possibilidade de ser leitor inserido na cultura você vai saber como promover pedagogicamente atividades que vão fazer o aluno se inscrever na posição de leitor e também de escritor.
CEEL - A universidade está formando futuros professores leitores?
Ludmila Thome - Parece que há um isolamento entre a nossa tarefa de estudo, de pesquisa e o que a gente faz em sala de aula. Parece que a gente pensa às vezes que pode fazer os alunos aprenderem sem falar sobre esse aprender. Então, os alunos saem do ensino médio e viram alunos universitários, passam pela universidade durante quatro anos e cada professor vai fazer tarefas de leitura e escrita, um pouco do que acontece na escola básica. Cada professor tem a sua tarefa, todos os professores lidam com a leitura e escrita, mas só o professor de português se ocupa da responsabilidade de saber o que é e discutir sobre a leitura e a escrita e nem sempre ele sabe da melhor forma. Os professores não se colocam na posição de formadores, a gente se coloca na posição de professores-pesquisadores, isso é um defeito da universidade e uma coisa para se pensar nessa formação inicial. A universidade participando de programas e projetos de formação continuada que estão, cada vez mais, colocando os professores para escrever, pensando na leitura, tem ajudado os professores a se apropriarem de uma forma adequada dos conhecimentos científicos e até produzindo materiais diferenciados para a formação. Mas, a formação inicial, eu ainda acho que é muito científica e alienada das suas funções formadoras.
CEEL - Iniciativas de estímulo a leitura dão resultado. Que projetos poderiam ser apontados como iniciativas bem sucedidas?
Ludmila Thome - No Rio de Janeiro, anualmente, a gente tem o Salão do Livro Infantil que acontece no Museu de Arte Moderna. Os professores de Sala de Leitura (Biblioteca) recebem R$ 500,00 para comprar para suas bibliotecas. Nesse salão do livro o professor leva para sua escola o que ele escolheu e, no ano que tem a Bienal do Livro o professor tem mais R$ 500,00 para gastar na Bienal. Isso é uma forma de acesso, mas, ao mesmo tempo, é uma forma de responsabilização do professor pela leitura literária na escola. Só a montagem de bibliotecas não é suficiente para que aconteça a leitura. A idéia de uma biblioteca em cada município é absolutamente fundamental, é mínima, é básico. Isso aí já tinha que ter acontecido há muito tempo, tinha que ter uma biblioteca em cada bairro. Ter uma em cada município é maravilhoso, mas é preciso estar atento para como esse projeto vai ser implementado. O acesso não é suficiente, a gente precisa estar dinamizando. Qualquer professor de Sala de Leitura deveria saber isso, nem sempre ele sabe. O bibliotecário é o dono da chave, é o que guarda, não é o que oferece. Precisamos fazer eles entenderem que a manipulação é que faz a leitura.
Ludmila Thome de Andrade possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986), mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1991), Diplôme d'études approfondies (DEA/mestrado) em Analyse du Discours - Université de Paris III (Sorbonne-Nouvelle) (1991) e doutorado em Sciences de L'Education - Universite de Paris VIII (1996). Atualmente é Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas: formação de professores, análise do discurso, letramento, escrita e leitura e ensino de língua materna.
Por Augusto Noronha
Assessoria de Comunicação - Ceel UFPE
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