4 de setembro de 2007

Entrevista: Gabriela Felippe Rodrigues (USP)

EDUCOMUNICAÇÃO
Setembro de 2007.

“A idéia é usar a comunicação como mediadora da educação”, afirma a jornalista e gestora da comunicação pela USP, Gabriela Fellipe Rodrigues. Segundo ela, o professor não faz isso apenas ao trazer as mensagens dos meios de comunicação para serem discutidas em sala de aula, mas sim, ao transformar o estudante em um agente da comunicação capaz de também ser um produtor de mensagem. “Algumas escolas, por exemplo, tem uma rádio, mas não aproveitam, às vezes tocam só música. Seria bom capacitar o estudante para a gestão da rádio-escolar e aí há todo um processo de integração que vai contribuir para a aprendizagem dos alunos e para o próprio desenvolvimento do professor”, afirma.

CEEL - O que é educomunicação?
Gabriela Felippe - É um campo de intervenção social, assim como é a comunicação, assim como é a educação, o Ismar Soares diz que a educomunicação já pode ser considerada um campo. Enxergar a educação à luz dos processos comunicativos seria uma função desse novo campo. A idéia é usar a comunicação como uma mediadora da educação. Você não vai simplesmente passar um filme para os alunos assistirem, você vai colocar o aluno também como um agente da comunicação que, além de assistir, discutir o filme, ele também pode produzir um filme. Todo o processo forma ecossistemas comunicativos. Você vai envolver todos os agentes da vida escolar, o aluno, o professor, o diretor, os pais dos alunos, a comunidade para que o fluxo de informação e comunicação corra em todos os sentidos. Porque na escola acontece uma comunicação unidirecional: o diretor fala pros professores, que falam para os alunos, não acontece o inverso. Então a educomunicação pede para que esse fluxo aconteça em rede para que as pessoas se expressem, melhorando a auto-estima, a capacidade de comunicação, de compreensão do mundo. Porque a partir do momento em que o aluno tem consciência do papel dos meios de comunicação, ele desenvolve consciência crítica e desenvolve um relacionamento com os professores, o que é muito importante para a educomunicação. A idéia é que todo mundo pode aprender com todo mundo, então, o aluno também vai ter voz. Tem que haver essa troca. E a educomunicação prega que isso seja uma política mesmo, faça parte do plano pedagógico. Tem que ser feita aos poucos, respeitando os limites e as especificidades de cada escola. Por exemplo, você vai fazer o planejamento do ano, você vai pensar tudo à luz da educomunicação, a aula de matemática, a aula de educação artísticas. Todas as aulas integradas e professor e aluno integrados. Algumas escolas, por exemplo, tem uma rádio, mas não aproveitam, às vezes tocam só música. Seria bom capacitar o estudante para a gestão da rádio-escolar e aí há todo um processo de integração que vai contribuir para a aprendizagem dos alunos e para o próprio desenvolvimento do professor.

CEEL - Ainda falta interesse da sociedade em aproveitar os recursos tecnológicos dos meios de comunicação para transformar a prática de ensino?
Gabriela Felippe - Não seria interesse, eu acho que falta informação mesmo. Ainda existe aquela visão de que os meios de comunicação são perversos, que eles vão deturpar os alunos. Isso é que tem que acabar. Os meios de comunicação não são concorrentes da escola, eles podem ser aliados, na verdade. O aluno gosta de ver telenovela? Tem tanta coisa boa numa telenovela, porque não trazer isso para o ambiente da escola? Aí eles mesmos vão selecionar o meio, vão escolher o que assistir.
Eu acho que falta fazer as pessoas compreenderem o real papel do meio de comunicação. Ele pode influenciar sim, mas a recepção é muito importante. É a recepção que tem que ser controlada. É importante formar, incentivar a reflexão para que a pessoa desenvolva mais a capacidade de entender o que é uma informação de qualidade.

CEEL - No contexto da política atual, o Governo Federal tem estimulado ações que visem a implementar as práticas educomunicativas no dia-a-dia do ensino?
Gabriela Felippe - Em âmbito federal, não sei te dizer sinceramente. Aconteceu uma experiência municipal, o idela da educomunicação transformada numa política pública para todas as 415 escolas municipais de São Paulo: o projeto EDUCOM.RÁDIO. Isso aconteceu durante uma gestão mas acabaou a gestão e terminou o projeto. Infelizmente é isso que acontece o governo sucessor não dá continuidade aos projetos. Mas começa timidamente, um projeto aqui, outro ali, a idéia é que se transforme numa rede.

Gabriela Felippe Rodrigues é mestranda em Ciências da Comunicação da ECA/USP, graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Unesp (2002) e especialista em Gestão da Comunicação pela USP (2006). Tem experiência em jornalismo impresso e online e desenvolve pesquisas na linha de Educomunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, educação, mídia e tecnologias.
E-mail: gabijornal@yahoo.com.br

Por Karla Vidal
Assessoria de Comunicação - Ceel UFPE

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